segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

A rolha realmente faz a diferença?


           
                  Vejam a foto acima, reparem nesta última rolha, a quinta da esquerda pra direita. É... Ela realmente destôa das outras não é mesmo? No visual ela é maior e mais larga, no tato é muito mais consistente. Foi retirada da garrafa de um Caymus 2008, um cabernet sauvignon californiano do Vale do Napa. Não resta a menor dúvida que o vinho é excelente, de nariz e de boca, caro, imponente e que tem seu valor. Contudo, será que precisa mesmo da rolha com esse tamanho?
                Será que isso não encarece mais o produto? Sobre o ponto de vista do crescimento sustentável, será que é ecologicamente correto? Vejamos a seguir de onde são extraidas, como são  produzidas, quais os tipos de rolha, a partir daí tirem suas conclusões.
                 A rolha é um objeto de cortiça compressivo e elástico, de origem vegetal obtido da casca do sobreiro. O sobreiro cujo o nome científico é Quercus suber é uma árvore encontrada principalmente nos seguintes paises: Portugal, Argélia, Espanha, Marrocos, França, Tunísia e Itália. Dos 22 bilhões de rolhas produzidas por ano no mercado mudial, 80% é porduzido em Portugal.  Ao longo dos anos a rolha de cortiça tem se tornado um oligopólio natural.
                 Ainda é impossível desvincular a imagem  de um bom vinho, de uma bela garrafa e uma boa rolha. Por quê? Pode ser pela tradição e pelo fascínio que esse tipo de produto exerce sobre o consumidor. Quantas vezes servimos um vinho para um leigo e nos deparamos com o seguinte cometário. "Esse vinho é muito bom ! Olha só o pêso dessa garrafa !" Pois é, existe um certo misticismo com esses detalhes. Como se garrafa pesada fosse sinal de vinho bom.
                Sobre a rolha posso dizer, é um componente que revolucionou a indústria do vinho. Material excelente para a vedação das garrafas por ser impermeável, elástica, resistente e durável.
Antes da descoberta da rolha, valia tudo para conservar o vinho, até mesmo o uso de azeite ou óleo vegetal, que não sendo missíveis com o vinho ( menor densidade) formava uma camada na superfície isolando-o do meio exterior.
                O sobreiro, como é chamado o Quercus suber, é uma árvore que  vive 150 anos e tem sua primeira extração de rolhas aos 20 anos. Suas  extrações seguintes são a cada 10 anos. A cortiça mais adequada só é conseguida na terceira extração. Um sobreiro permite ao longo de sua existência 12 a 15 extrações produtivas. O fato também da árvore só ser encontrada em pouquíssimos países, torna a cortiça um material caro. Não é por acaso que as rolhas dos vinhos inferiores são muito curtas e feitas de aglomerado de raspas ou só de pó de cortiça.
               Uma rolha decente (comprida e de boa cortiça) é fundamental na conservação de um bom vinho, porém, isso não depente só da rolha, a garrafa tem que ficar numa posição que o líquido mantenha contato com a rolha pois, molhada a cortiça se expandirá e vedará completamente a garrafa. Uma rolha defeituosa pode apresentar vazamentos e permitir a entrada de oxigênio na garrafga, fato extremamente nocivo ao vinho.
                Quando contaminada por fungos transmite ao vinho cheiro e gosto desageadáveis com características de mofo ou papelão molhado. O vinho com cheiro de mofo é chamado de "bouchonée"( do Francês; buchon = rolha). Por isso, longe de ser pedantismo, examinar a rolha e cheirá-la quando uma garrafa é desarrolhada à mesa.
                 A rolha de cortiça é companheira do vinho desde o século XVI. Atualmente existe uma grande discursão em torno do preço das rolhas e da contaminação a qual elas estão sujeitas. A contaminação pode ocorrer no sobreiro e nas reações com produtos químicos (fenois). Visto esses problemas passou-se a questionar o uso da rolha de cortiça e iniciaram-se pesquisas para encontrar um substituto sintético à altura.
                   A guerra das rolhas de cortiça versus rolhas sintéticas está acirrada, os americanos, australianos e ingleses acham que o vinho é como qualquer outro produto alimentício, e portanto a contaminação é imperdoável. Isso vai de encontro ao fato de que 10% dos vinhos fabricados são bouchonné. Os pró-cortiça apontam as impurezas das sintéticas e afirmam que o não uso da cortiça acarretaria sérios danos econômicos aos países produtores e levaria extinção das florestas de sobreiro e destruição do habitat natural de inúmeras espécies de pássaros raros.
                   Outro tipo de vedação de garrafas é a que utiliza tampa de rosca  a "screw cap" (usadas também em garrafas de Uísque), esta vem se tornando popular, principalmente nos Estados Unidos, Nova Zelândia, Austrália e Inglaterra.
                   Existe uma campanha agressiva feita pelos pró-sintética e pró-rosca, a  ponto de ocorrer em Nova York no ano de 2002, um jantar funeral da rolha de cortiça. Todos foram ao evento trajando luto e o fato que chamou atenção foi o pronunciamento da fomosa Master of Wine, Jancis Robinson que proferiu palavras de despedida à rolha tradicional.
                  Em 2003, outro expoente da enologia mundial Hugh Johnson escreveu em seu "Pocket Wine Guide 2003", que 5 a 10% das garrafas de vinho são contaminadas pelo tricloroanisol (TCA), que rolha de cortiça é importante no envelhecimento lento do vinho, mas os vinhos do dia a dia, de caráter fresco e frutado, devem ter tampa de rosca.
                  Em seu livro "O vinho no Gerúndio" o mestre Júlio Anselmo de Souza Neto afirma que: "Penso que uma garrafa de vinho com rolha sintética ou tampa de rosca é como uma mulher elegantemente vestida, mas calçando sandálias havainas".
                  Olhem novamente a foto, a terceira rolha da esquerda pra direita é de um Don Melchor 2005, um dos ícones da América do Sul. Um vinho tão bom ou melhor que o nosso Caymus 2005. Observem o tamanho da rolha do Don Melchor, ela não tem nada de paranormal. Já a segunda rolha da esquerda pra direita pertence a um super toscano Biondi Santi, o emblemático Sassoalloro 2005, também nada de paranormal. Duas rolhas extremamente simples utilizadas na vedação de dois grandes vinhos. Agora pensem, analisem e tirem suas conclusões.
               
            Fontes:
                      01. Manual Didático do Vinho ( Daniel Pinto)
                      02. O Vinho no Gerúndio ( Júlio Anselmo de Souza Neto)
                      03. The Oxford Companion to Wine ( Jancis Robinson)
                      04. Larousse do Vinho           

2 comentários:

Eugênio Oliveira disse...

Olá Rômulo, tudo bem?

Já tomei um Caymus Special Selection 2004 e fiquei assustado com o tamanho da rolha; muito maior que de qualquer vinho top francês. É sem dúvida a maior rolha que já vi em um vinho.

Anônimo disse...

Eu Também Eugênio.
Grande abraço e obg por seguir o Blog, Rômulo Lôbo.

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